sábado, 6 de novembro de 2010

Letícia Sabatella " A bela engajada"



atriz, que em abril participou de uma ocupação do MST, planeja segundo filho e diz que fica “bem nervosa” quando o assunto é política Quase sem piscar os olhos, de frente para o mar da praia do Leblon, na zona sul do Rio, ela fica observando as ondas. Depois de tirar o tênis, caminhar lentamente sobre a areia e parar para contemplar aquele momento, decide romper o silêncio. Conta que o mar a faz lembrar da infância, época em que saía para velejar com a família e que foi coroada com um concurso de escultura na areia, vencida por ela aos sete anos. Descalça e com os pés ainda envolvidos por pequenos grãos de areia, Letícia entra no apartamento onde mora e senta-se, sob as pernas, no chão. A sua volta, poucos móveis ocupam a sala, que é toda pintada de branco. Uma televisão, um tapete, uma mesa de madeira, um sofá e só. Nas duas horas em que passou naquela posição, a voz suave e pausada da atriz Letícia Sabatella, 29 anos, só ganhou a companhia de gestos esfuziantes quando as mazelas do país entraram em discussão. “Sou bem nervosa, quando o assunto é política.” A atriz tem autoridade e firmeza para falar sobre o tema. Nascida em Belo Horizonte, Letícia, que mora há dez anos no Rio, sempre se cercou de intelectuais, como Herbert de Sousa, o Betinho, já falecido, o teólogo Leonardo Boff e Frei Betto. Foi Betinho quem a apresentou ao Movimento dos Sem-Terra (MST). Em abril passado, ela e o marido e ator Ângelo Antônio participaram da ocupação de 714 hectares da Fazenda São João, na cidade de Teodoro Sampaio, na fronteira de São Paulo com o Mato Grosso do Sul. “Sempre quis visitar um acampamento”, explica. Sua filha nasceu prematura, no sexto mês de gravidez Foram três dias hospedados na casa do líder do movimento, José Rainha, onde passou a maior parte do tempo conversando com as mulheres e as crianças do acampamento, sentada em volta de uma fogueira, à noite. “No último dia não agüentei e chorei. Estava muito comovida”, conta. Ao seu lado, o marido registrava tudo com uma câmera digital e, agora, pensa em produzir um documentário. “O MST é o movimento social mais importante do Brasil”, diz a atriz. “Letícia tem uma curiosidade misturada com generosidade”, elogia a amiga Teresa Seiblitz. Há algumas semanas, Letícia recebeu uma proposta para fazer uma propaganda gratuita para o PT – nas eleições presidenciais de 1994, ela fez campanha para Lula –, mas recusou. “Não consegui conciliar com as gravações”, diz ela, referindo-se à próxima novela das oito da Globo, O Clone, na qual será uma das protagonistas. Casada há dez anos, prefere programas caseiros, como receber amigos para jantares. Stênio Garcia, que contracenará com ela em O Clone, é um dos que já provou os pratos vegetarianos da atriz. “Ela faz uma comida maravilhosa”, elogia. Nos finais de semana, ela viaja com o marido e a filha, Clara, de oito anos, para um sítio no interior do Estado do Rio. “Eu e o Ângelo gostamos das mesmas coisas: de mato e natureza”, afirma. Raramente eles saem dessa rotina. A última escapada foi no aniversário de Alessandra Negrini, recentemente. “Mas sou muito louca quando danço”, diz Letícia. Verdade. Depois de alguns cigarros e três latas de cerveja, a atriz era a mais animada na pista de dança e só parou para um cochilo depois de se sentir mal. Mesmo quando sai à noite, Letícia é adepta do estilo calça jeans e camiseta. No guarda-roupa da atriz não há espaço para Gucci ou Armani, mas sim para peças de brechó. Nem mesmo jóia ela usa – a aliança de casamento foi parar na gaveta. “A Letícia é muito elegante, mas às vezes se veste como uma xiita”, conta Teresa Seiblitz. Mãe aos 21 anos, Letícia aprendeu desde cedo a cuidar de uma família, mas não reclama. “Com a Clara, passei a valorizar um almoço em família”, filosofa. Engravidar na juventude, porém, fez com que a atriz tivesse dificuldade de impor limites à filha. O pai, nesses casos, era quem intervinha. “Me achava muito menina para dizer o que ela podia ou não fazer. Eu mesma não sabia”, diz ela. Mais madura, ela planeja outro filho. “A Clara sempre me pede um irmão, mas precisava desse tempo”, conta. Tempo para superar os problemas que, enfrentou na gravidez da filha, que nasceu prematura, no sexto mês de gravidez de Letícia, em decorrência de uma infecção urinária. Foram os momentos mais difíceis da vida da atriz. Ela e o marido passaram três meses morando dentro do hospital, em Belo Horizonte. Ali, ela era convidada para assistir a partos e era interpelada por pacientes terminais. “O nascimento da Clara foi a grande experiência mística da minha vida”, diz. A internação da filha ainda a fez mudar o comportamento com os fãs. Graças às dezenas de cartas de apoio que recebia todos os dias, hoje ela se expõe com maior desenvoltura e se emociona toda vez que é parada nas ruas. “Sempre perguntam como está a Clara”, diz. De família religiosa, passou a ler sobre budismo por influência de Ângelo, que tem um irmão teólogo, e amigos, como Frei Betto. Também já freqüentou terreiro de candomblé e possui em casa quatro imagens barrocas. A única imagem para a qual ela torce o nariz é a de símbolo sexual. Desde que estreou na tevê no papel de uma prostituta, em O Dono do Mundo, em 1992, a alcunha a acompanha. “Não sou uma beleza simétrica. Tenho traços bonitos e feios”, diz. Letícia não gosta dos dentes compridos e gostaria de ter mais bochecha. Acha também que o corpo está meio molenga. “Não consigo ter disciplina para fazer ginástica”, entrega. “Mas qual o problema de ter umas bainhas aqui e outras ali?” Para quem, além de bonita, pensa como ela, não deve fazer diferença mesmo.
Fonte:Isto é Gente

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