sábado, 14 de agosto de 2010

Isto é Gente:Uma nova Letícia Sabatella em cena










Durante os dez dias que passou entre os índios Krahô, no Tocantins, em abril do ano passado, Letícia Sabatella não hesitou em viver como uma autêntica integrante da tribo. Enquanto dirigia as cenas de um documentário sobre os hotxuás, os palhaços sagrados da aldeia, dor-
mia na rede de uma cabana, vestia apenas uma canga, com as costas e os seios nus cobertos apenas por pinturas, e se alimentava da mes-
ma maneira que os nativos. Tudo mais ou menos parecido com sua primeira passagem pelo lugar, há 10 anos. A diferença é que, dessa vez, Letícia foi ao Tocantins sem o ex-marido Ângelo Antônio, de quem se separou há dois anos. “Minha separação foi uma morte, mas tenho conseguido amadurecer e superar esse lado trágico”, conta ela.
Além do mergulho no trabalho, a atriz que acabou de protagonizar a minissérie Hoje É Dia de Maria viu no fortalecimento do convívio com a filha, Clara, hoje com 12 anos, uma forma de driblar a dor pelo desfecho dos 11 anos de união. “A primeira sensação na família foi de saudade, e a Clara teve um momento difícil”, diz Letícia. Sem saber direito de onde tirou a idéia, decidiu colocar “mais dificuldade” na vida da filha. Matriculou a menina no curso de inglês e trocou saídas de carro por longas caminhadas. Deu certo. “A gente estudava e andava muito junto. A auto-estima da Clara aumentou, e ela percebeu que somos mais fortes que qualquer separação. Toda dor passa”, completa a atriz.

A presença constante dos pais ajudou a superar o momento difícil. Passado o trauma pelo fim do casamento – cujo motivo a atriz não revela – Ângelo e Letícia mantiveram os laços de amizade. Ele freqüenta a casa dela e os dois decidem juntos tudo o que se refere a Clara. “Tenho estado cada vez mais tranqüila, consigo compreender o que aconteceu. Admiro muito o Ângelo”, diz a atriz, que recebe de volta os elogios do ex-marido. “A Lelê é um ser humano justo, puro, raro. Nossa relação é para sempre.” Aos 33 anos, Letícia acha que a fase de solteira perdurará. “Não saio para paquerar, não sinto essa carência.” Sua intuição, ela garante, não lhe
diz que outro marido é necessário. “Não estou preparada para casar de novo”, diz a atriz, que está reaprendendo a viver sozinha. Das mudanças na vida, a mais surpreendente foi a decisão de freqüentar uma academia de ginástica. Após a primeira aula, a atriz, fã de mantras e música clássica, ficou um mês sem voltar, incomodada com o som alto do ambiente. Depois, acostumou-se e passou até a gostar. “É bom para me aproximar mais do universo da Clara”, diverte-se.

Outro desafio é aprender a lidar com a administração da casa. Letícia se esforça para manter o padrão de vida sem se permitir grandes luxos. Uma questão de estilo. “Tomo cuidado para não fazer do dinheiro uma prisão. Não tenho mansão ou empregados a ponto de virar uma grande empresa”, diz. Ela é dona de um jipe Suzuki 99, descarta trocar de carro e não tem coragem de comprar roupas caras. Quando tem de se arrumar para uma festa chique, Letícia opta por roupas artesanais, coisas como tecidos de Diamantina, rendas do Nordeste ou peças de algodão cru.

A atriz também desistiu de fazer comerciais. Tinha crise de consciência toda vez que fazia, até que decidiu abrir mão do dinheiro em troca da própria paz. A postura se encaixa em uma das características mais marcantes de Letícia: o engajamento político. Isso explica a participação em várias atividades do Movimento dos Sem-Terra, como a inauguração de uma escola rural em Guararema (SP), há três semanas, e a defesa do líder do MST, José Rainha, que chegou a ser preso por porte de armas. “Há uma busca de criminalização do movimento, mas se você analisar todo o contexto, o Rainha é inocente”, afirma. Ela é uma ferrenha incentivadora da reforma agrária no País: “Se alguém quer ficar protegido na zona sul do Rio também tem que apoiar. Morar atrás de grades e andar em carros blindados não é vida”.
Freqüentadora do Fórum Social Mundial de Porto Alegre, Letícia provocou uma movimentação inusitada da polícia gaúcha esse ano, quando participava de um seminário com a presença da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. “Tivemos que chamar a PM para ela ser liberada da multidão que a abordou. E é quase sempre assim. Estamos sempre juntos nessas manifestações pela paz, e é impressionante como todos querem falar com a Letícia”, conta o teólogo Leonardo Boff , amigo da atriz e um dos idealizadores da Teologia da Libertação. “A Letícia
é despojada e sem vaidade. Ela tem intimidade com Deus.”

A dedicação ao trabalho é outra marca da mineira que chegou ao Rio aos 19 anos, em 1991, para estrear na Globo no especial Os Homens Querem Paz, dirigido por Luiz Fernando Carvalho. A produção é sempre lembrada pelo diretor quando o assunto é Letícia Sabatella. Como a atriz ganhou fama nacional ao interpretar a Taís da novela O Dono do Mundo, de Gilberto Braga, muita gente acha que esse foi seu primeiro trabalho. “Tive o prazer de lançar a Letícia na tevê. Ela é uma artista excepcional, genuína. Alguém que, diante do mundo, reage e atua conscientemente”, afirma o diretor.

Uma das provas de sua decantada consciência, o documentário sobre os índios Krahô, feito em parceria com Gringo Cardia, ainda não está pronto e não tem prazo de lançamento. Mas Letícia poderá ser vista em breve no cinema, como a Lúcia de Vestido de Noiva, a peça de Nelson Rodrigues filmada pelo filho do dramaturgo, Jofre Rodrigues. A julgar por essa nova Letícia Sabatella em cena, muitos outros trabalhos virão. “Às vezes é bom ir a uma boate dançar, mas tenho dançado nos meus trabalhos”, diz a atriz. “Meu foco tem sido cada vez mais a minha carreira, é nela que eu me divirto

Fonte:terra.com.br

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