sábado, 21 de agosto de 2010

Letícia Sabatella dispara: “Sou gente boa, mas sou atrapalhada”

Atriz diz que a maldade de sua personagem lhe dá dor de cabeça e conta como cuida da beleza



Letícia Sabatella já fez personagens com caráter duvidoso. Mas nada que se compare à Ivone, de Caminho das Índias, a psicopata de voz doce e carinha angelical que vive dando golpes e fazendo armações perigosas na novela das 8. A personagem é a primeira grande vilã na carreira da atriz, que reconhece estar amadurecendo muito por causa das maldades praticadas em cena. Simpática e falante, Letícia recebeu QUEM em sua casa, na Gávea, Zona Sul do Rio. No meio da conversa, pausa para um carinhoso beijo em André Gonçalves, de 33 anos, que deu uma passada para vê-la, pois estava a caminho do Projac, onde gravaria cenas como o indiano Gopal. O casal começou a namorar nos bastidores da novela, há nove meses. Mesmo sendo reservada em se tratando de assuntos pessoais, a atriz falou da relação com entusiasmo e olhar brilhante. “Está muito gostoso.”

Letícia também fala de sua filha, Clara, de 16 anos, do casamento com o ator Ângelo Antônio, e do relacionamento com os filhos de André, Manuela, de 10 anos, Pedro Arthur, de 7, e Valentina, de 6, cujas mães são as atrizes Tereza Seiblitz e Myrian Rios e a jornalista Cynthia Benini, respectivamente.

QUEM: Qual foi a maior dificuldade na composição da Yvone, uma personagem psicopata?
LETÍCIA SABATELLA: No começo da novela, a Glória (Perez, autora da novela) falava: “As pessoas não têm noção da dimensão da Yvone”. No início, fizeram uma comparação com a vilã anterior (Flora, vivida por Patrícia Pillar, em A Favorita) e a gente trabalhou muito para ser uma outra coisa. A Flora era uma vilã meio masculina, não era uma psicopata pura, ela tinha uma coisa delirante.

QUEM: Quando Patrícia fez Flora, disse que custava sair da personagem. Com você foi assim também?
LS: A Yvone me dá cansaço mental. Ela pensa muito mais do que eu. No começo, ficava exercitando a personagem, que tem energia pesada, sente raiva, inveja, isso me dava dor de cabeça. Ela é uma pessoa que sente ódio. Eu não. Quando acontece alguma coisa, eu me magoo. Isso me dá um certo cansaço, mas nada que uma cachoeira não melhore.


“O ANDRÉ GOSTA DE CACHOEIRA, GOSTA DE MATA, TEM UMA VIDA COM PRAZERES BUCÓLICOS. (...) É SUPERCOMPANHEIRO, TEM SIDO UM BOM COLEGA DE TRABALHO.”

QUEM: Você e o André estão sempre juntos e passam a impressão de um casal muito apaixonado.
LS: É, sabe que é? O André é muito disciplinado também. Gosta de cachoeira, gosta de mata, tem uma vida com prazeres bem bucólicos. Ele gosta de música, de cantar e dançar, é supercompanheiro, tem sido bom colega de trabalho. Me ajuda pra caramba. É superbom namorado.

QUEM: Há entrosamento entre vocês e os respectivos filhos?
LS: Os filhos do André são mais novos (do que Clara) e são de ótimas mães. A Manuela é filha da Tereza Seiblitz, que é uma amiga, irmã de alma. A Valentina é uma luz, que conheci depois, muito especial. E tem o Pedro, que é filho da Myrian Rios, que é uma gracinha também. E a Manuela ainda tem o Vitório, irmão mais novo dela por parte de mãe. É uma turma bárbara.

QUEM: Vocês saem todos juntos?
LS: O André é ótimo chefe de turma. Ele diz: “Todo mundo para a cachoeira!”, “Todo mundo para a praia!” É muito legal isso. E eles adoram. Nas vezes em que pude estar junto foi muito legal. Estava doente esses dias, com uma virose forte, com gânglios, dor de garganta... Não melhorava, estava frágil, cansada, com imunidade baixa. Quando as crianças vieram aqui num domingo e ficaram fazendo música, brincando, melhorei rapidinho. Eles me deram uma cura.

QUEM: Quer ter mais um filho?
LS: Não precisa, está bom assim. Acho muito legal ter filho, mas é realmente uma fase bacana essa da Clara, mais velha. E a gente acaba exercendo a maternidade em muitas coisas. Sou maternal, gosto de criança, mas não planejo.

QUEM: Você quase não é vista com a Clara. Evita expô-la?
LS: Ela não gosta de se expor de graça. Mas as pessoas conhecem, não fica escondida assim, não.

QUEM: Você foi mãe aos 22 anos e teve um parto prematuro, numa época em que não era comum bebês sobreviverem com apenas cinco meses. Bateu muito medo?
LS: Tive uma sorte danada. Ela estava frágil, conseguiu se fortalecer. Percebo a diferença de atendimento, tive a sorte de ter um médico que me recebeu e me segurou. O tempo inteiro me vinha isso à mente, de como seria num serviço público, porque é caro ficar na UTI. É um investimento. E ela ficou três meses. Fiquei lá o tempo inteiro.

QUEM: Ela ficou com alguma sequela por ter nascido com apenas cinco meses?
LS: Nenhuma. Nem problema de vista, nem bronquite. É superforte, super-resistente. Uma coisa que ela tem é resistência à dor. E essa resistência é um mecanismo de defesa. Tenho que ficar de olho, porque ela demora a tratar dor de ouvido, por exemplo. Ela tem uma abstração da dor.

QUEM: Você passa a imagem de ser calma e tranquila. Sempre é assim?
LS: Nem sempre. Correria, pressa, pressão. Fico histérica. Chego a entrar em curto-circuito. Sou gente boa, mas sou atrapalhada. Se tiver que falar muito rápido começo a gaguejar.
QUEM: Você era mais cheinha no início da carreira. Como emagreceu?
LS: Trabalhos me pediram um corpo mais ágil. Mas não tenho uma forma só. Num período de dois meses, posso passar do 38 ao 42. Não tenho estria porque venho de uma família de peles boas. Tenho roupa de 36 ao 44. Tenho facilidade para emagrecer e engordar, para me controlar, fazer uma dieta com caldos e líquidos, cortando açúcar, farinha, leite. Mas também sei comer bem.



“É TRUCULENTO ACEITAR A EXISTÊNCIA DE UM ESTADO QUE MANTÉM TRABALHO ESCRAVO ATRAVÉS DE POLÍTICOS, DE DIRIGENTES (...)”

QUEM: A proximidade dos 40 anos preocupa?
LS: Não, mas tenho que cuidar de algumas coisas. Descobri que tenho fibrilação, essa arritmia. Não posso tomar muita cafeína, por exemplo. Bebida alcoólica eu já não gosto muito, então controlo mais.

QUEM: Você sempre é apontada como uma das belas atrizes de sua geração. E por ter uma beleza natural, que não precisa de muita produção. Que cuidados tem com o corpo e a pele?
LS: Há alguns cuidados que tenho que ter, mas o máximo que consigo fazer é usar protetor solar, hidratante e tirar a maquiagem. Ginástica, não tenho tempo. Não estou tendo disciplina. Mas a cada dia invento alguma coisa, faço uma caminhada.

QUEM: Você declarou seu voto ao presidente Lula. E, ao mesmo tempo, é uma pessoa que sempre apoiou o movimento dos sem-terra (MST). Como está vendo o governo em relação à política agrícola?
LS: Acho que nosso governo realmente precisa atender melhor os movimentos, acho que há uma carência nesse atendimento, sim.

QUEM: Você ainda participa do MST?
LS: Já abraçava a causa, mas é claro que conhecer e ver de perto é bem diferente. Já tinha visto trabalho escravo, a realidade de pessoas em presídios, nas ruas, já tinha vivido esse caos urbano. Quando conheci o MST, vi que tinha muito a ver com o que pensava. Eu vejo solução quando a pobreza se organiza na forma de um movimento, de modo cidadão, para lutar por seus direitos. O que eu vejo é uma truculência do poder oficial. É truculento aceitar a existência de um Estado que mantém trabalho escravo através de políticos, de dirigentes, de pessoas que estão no Senado, no Congresso, que praticam isso.

QUEM: É verdade que no seu sítio, em Cachoeiras de Macacu (RJ), os empregados têm participação nos lucros?
LS: Não há essa relação de patrão e empregado. As terras do sítio são transformadas em canteiros em prol da comunidade. Já tem um projeto nosso lá, que as terras do sítio são cedidas em comodato a uma associação que fundamos, a associação dos pequenos produtores agrícolas e artesãos de Suarim. Já fizemos vários cursos de agricultura orgânica, congressos, acabou virando escola de formação. É um modo de estar com a vizinhança agregada, unida no intuito de preservar aquele lugar. Participo de oficinas, estou plantando com eles. Sei menos do que eles

Fonte:revistaquem.globo.com

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